Os conflitos socioambientais passaram a ter destaque na fronteira Brasil-Peru nas últimas décadas abarcando os recursos naturais, as coletividades em torno desses bens e as formas de inter-relacionamento com o território. Nossa atenção na zona de fronteira internacional foi dedicada às unidades de conservação e terras indígenas acreanas que estão contíguas às áreas naturales protegidas, comunidades nativas e reservas territoriales no segmento fronteiriço peruano (Departamentos de Madre de Dios e Ucayali). Portanto o objetivo principal da pesquisa foi analisar as situações de conflito socioambiental que prioritariamente envolvam e/ou afetem os povos indígenas nas áreas protegidas e nos territórios indígenas limítrofes do segmento fronteiriço Brasil-Peru. Deste modo, o que caracterizou a temática deste estudo é a coexistência de áreas protegidas e territórios indígenas limítrofes, com as suas interações gerando novos condicionantes ambientais, políticos e sociais que serão interpretados comparativamente à luz das escolhas teóricas particulares, como por exemplo: a exploração madeireira legal e ilegal, a presença de índios isolados, a prospecção de gás e petróleo e as sobreposições nos territórios especiais demarcados seja por concessões exploratórias oficiais, pela atuação de agentes ilegais, ou mesmo pela coincidência de parte dos limites dessas áreas especiais. Além disso, como o grupo populacional indígena tem grande relevância na região, o recorte metodológico privilegiou os conflitos que atingem prioritariamente este grupo. Assim, optou-se pela análise situacional, circunscrevendo um contexto espaço-temporal definido como foco da pesquisa, no caso o segmento fronteiriço Brasil-Peru e suas 38 áreas protegidas e territórios indígenas limítrofes. Portanto o escopo temporal do trabalho acompanha a história desses territórios especiais, porém observando sempre as informações mais recentes correspondendo aos últimos 15 anos. Além da revisão bibliográfica os esforços focalizaram-se no levantamento de dados secundários e no conjunto de leis acerca das áreas protegidas e os territórios indígenas da zona de fronteira Brasil-Peru. Em busca de dados mais específicos sobre os conflitos socioambientais foi realizado um levantamento de notícias. Ao final da seleção, 150 alimentaram a criação e organização de um quadro com a apreciação das informações contidas nas notícias. Foi possível constatar que os processos de reestruturação do território amazônico, em especial nessa zona de fronteira têm levado a conflitos com os povos indígenas. As tensões são decorrentes da vizinhança ou da superposição entre territorialidades indígenas com as demais categorias de áreas protegidas, além das incursões de redes ilegais, tanto para exploração de recursos naturais (prioritariamente madeira), como para o tráfico de drogas ilícitas e para as futuras extrações de gás e petróleo.
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OLIVEIRA, Camilla da Rocha. 2015. 319 p. Áreas Protegidas, Territorialidade Indígena e Conflitos na Zona de Fronteira Brasil-Peru. Rio de Janeiro: UFRJ/PPGG, 2015. Dissertação (Mestrado em Geografia).