O estudo das práticas dos contrabandistas requer ferramentas variadas, uma vez que os instrumentos de pesquisa mais convencionais não penetram a natureza sigilosa do objeto em questão. Assim, recorreu-se a interpretações geográficas da literatura e a uma etnografia balizada pela teoria da tradução cultural como metodologias para pesquisar os bagayeros, contrabandistas de pequenos volumes que freqüentam as cidades de Santana do Livramento e Rivera, na fronteira Brasil-Uruguai. Apresentam-se aqui resultados dessa pesquisa: primeiramente, debatem-se os usos da ficção pelas ciências humanas, mais especificamente pela geografia e antropologia. Segue a análise do contrabando através de seis narrativas produzidas e ambientadas na fronteira gaúcha, examinadas em sua lógica interna e em sua relação com textos precursores.
As metáforas empregadas particular ou genericamente às fronteiras são exploradas e mapeadas, sendo usadas como indícios para a compreensão dos significados atribuídos a esse objeto geográfico pela população que o experimenta cotidianamente.
Finalmente, textos sobre as fronteiras da França são analisados, novamente em busca das metáforas, e os diferentes contextos geohistóricos de produção de fronteiras e dos objetos culturais a elas ligados são comparados, testando a correspondência entre geografia e cultura, em busca de elementos para uma compreensão mais ampla da fronteira como experiência cotidiana.
Dorfman, A. 2008. “Pequenas pontes submersas”: interpretações geográficas e antropológicas de literaturas de contrabando. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 3, n. 1, p. 93-114, jan.-abr.