Alguns motivos justificam a opção de tomar o conflito colombiano como ponto de partida para entender as atuais dinâmicas de segurança e insegurança na Amazônia sul-americana. Em primeiro lugar, o tráfico de drogas e suas conexões têm sido um dos principais temas a mobilizar as relações internacionais no âmbito regional andino-amazônico, principalmente no que se refere à relação entre os países andino-amazônicos e os Estados Unidos (…). Em segundo lugar, a atual crise colombiana é marcada por um alto grau de intervencionismo externo, cuja expressão maior foi o Plan Colombia, iniciado em 1999 como um plano bilateral entre a Colômbia e os Estados Unidos. (…) Apesar de inicialmente concebido em um contexto de negociação entre o governo colombiano e as guerrilhas, o Plan Colombia se consolidou através da intensificação do combate às guerrilhas em lugar da saída negociada e da erradicação forçada de cultivos ilícitos via fumigação aérea como estratégia privilegiada de combate ao tráfico de drogas. Apesar de complementares, essas duas frentes de atuação – combate às drogas e contra-insurgência – ainda eram vistas como distintas entre si. Em terceiro lugar, foi na Colômbia que a chamada “guerra global contra o terrorismo” estabeleceu o seu principal vínculo na Amazônia sul-americana. (…) Esse vínculo entre o âmbito interno colombiano e o âmbito global da guerra contra o terrorismo foi efetivado não só pelas agências internacionais e norte-americanas, que caracterizavam o tráfico de drogas como uma fonte de financiamento para ações terroristas, mas também pelos agentes governamentais colombianos, que não queriam que fossem passadas para segundo plano as preocupações norte-americanas na América do Sul, o que poderia representar uma diminuição do apoio financeiro e logístico dos EUA na Colômbia.
Monteiro, L. C. R. 2010. Dimensão amazônica do conflito colombiano e seus efeitos nas políticas de segurança continental e brasileira. In: Francisco C. T. da Silva; Daniel S. Chaves (Orgs.). Terrorismo na América do Sul: uma ótica brasileira. 1 ed. Rio de Janeiro: Multifoco, p. 185-204.