Dossiê Temático Fazer a fronteira
Organização: Rebeca Steiman (PPGG/UFRJ) e Licio Monteiro (IEAR/UFF)
Traçar limites territoriais nos mapas ou demarcá-los no terreno são atos inescapavelmente intencionais e arbitrários, sendo os limites políticos interestatais o exemplo mais notório. Uma vez traçados, estes moldam corações e mentes a ponto de tornar reconhecíveis os territórios pela mera observação de suas linhas de contorno.
Como se ganhassem vida própria, os limites abstratos entre os Estados são parte constitutiva das práticas e representações das pessoas, grupos sociais e instituições que, de um lado e do outro, habitam suas adjacências. Se os limites provocam, desafiam, constrangem e condicionam o movimento das populações, estas não respondem passivamente aos efeitos desses limites, mas constroem as diferentes maneiras de habitar uma fronteira. Nesse sentido, “fazer a fronteira” ganha um significado especial, que não é o de eventualmente delimitar ou demarcar os territórios nacionais, mas o de constituir e viabilizar o espaço transitivo entre dois domínios distintos.
O termo “fazer a fronteira” coloca aqui em evidência, por um lado, o aspecto de fabricação dos limites e fronteiras internacionais, que longe de serem estabelecidos de uma vez por todas, necessitam ser atualizados, reafirmados e modificados para que os limites territoriais continuem funcionando como um dispositivo eficiente de separação. Por outro lado, chama a atenção que essa construção não é unívoca, mas sim ativada por uma diversidade de atores que habitam a fronteira e produzem as possibilidades tanto de habitá-la quanto de atravessá-la.
Nas duas últimas décadas, a América do Sul produziu histórias diversas sobre as maneiras de se “fazer a fronteira”. Movimentos em direção a projetos de integração regional ocorreram simultaneamente a processos de escalada de conflitos e reforço da segurança fronteiriça. Mesmo o viés integracionista muitas vezes considerou negociações diplomáticas e fluxos transnacionais sem muito considerar a potencialidade das interações transfronteiriças locais. Ao mesmo tempo, as novas modalidades de segurança fronteiriça trouxeram à tona a cooperação binacional e regional como estratégia de proteção dos Estados nacionais.
Diante desses desafios que escapam às interpretações e soluções mais óbvias, “fazer a fronteira” prossegue como uma questão fundamental para a compreensão das dinâmicas sócio espaciais que emergem a partir das margens e muitas vezes antecipam tendências que se verificam no conjunto do território e em seus centros.
Convidamos pesquisadores a enviarem artigos para o dossiê temático Fazer a Fronteira até 31 de março de 2018. Os artigos selecionados e aprovados na avaliação cega por pares serão publicados na Revista Franco-Brasileira de Geografia Confins. Os trabalhos devem ter até 30.000 caracteres com espaço e ilustrações e devem ser enviados para dossieretis@gmail.com. Demais normas para formatação dos trabalhos estão disponíveis em https://confins.revues.org/35.
PDF em português e em espanhol
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O primeiro propósito deste artigo é analisar algumas das interações espaciais na zona de fronteira que compartem Brasil, Peru e Bolívia, no momento em que se finaliza a construção da Rodovia Transoceânica que conecta o Brasil e a Bolívia ao litoral do Pacífico no Peru. O segundo propósito é sugerir que a abordagem da geopolítica clássica centrada em grandes espaços (nacionais, subcontinental, continentais) e iniciativas governamentais deve ser, ao menos, complementada pelo reconhecimento da existência de uma geopolítica fragmentada, isto é, um pensamento geopolítico direcionado a pequenos espaços e por pequenos jogos geopolíticos dos governos e de agentes não estatais. A pesquisa enfatiza a conveniência de repensar o conceito de região considerando os limites flexíveis e estruturas espaciais instáveis.
Machado, L.O.; Ribeiro, L.P.; Monteiro, L.C. do R. 2014. Geopolítica fragmentada: interações transfronteiriças entre o Acre (br), o Peru e a Bolívia. Cuadenos de Geografía. Revista Colombiana de Geografía 23(2): 15-30.
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Saiu a primeira circular do V Seminário de Estudos Fronteiriços a se realizar em Corumbá entre os dias 20 e 22 de maio de 2015. Trabalhos completos poderão ser encaminhados a partir do dia 1º de novembro de 2014 para o e-mail vsef.ufms@gmail.com. Mais informações na circular.
Primeira circular V SEF
Segunda circular V SEF
Essa dissertação tem o objetivo provocar a reflexão sobre os acordos internacionais e os desacordos locais relacionados ao Documento Especial Fronteiriço implementado no Decreto 6.737/2009. Para tanto, devemos compreender que a fronteira deixou de ser concebida somente a partir das estratégias e interesses do Estado central, passando a ser concebida também pelas comunidades de fronteira, ou seja, no âmbito subnacional. Com essa compreensão, passaremos a refletir, como o preparo das instituições e as peculiaridades locais, podem influenciar e reforçar sua centralidade além dos limites internacionais e sobre a faixa de fronteira, subvertendo e renovando as concepções clássicas de limite e de fronteira, sinalizando uma possível identidade de fronteira. Nessa linha de idéias, estabeleceremos discussões de como o Documento Fronteiriço pode representar a formalização das relações já existentes, estimulando novas integrações e trazendo benefícios para a região de fronteira.
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SILVA, Fabio Machado. 2013. Documento especial fronteiriço: acordos internacionais e desacordos locais. Dissertação (Mestrado em Estudos Fronteiriços) – Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços, Universidade Federal de Mato Grosso Do Sul – Campus do Pantanal, Corumbá, MS.
A presente dissertação tem por objetivo central demonstrar e compreender as dinâmicas específicas do comércio fronteiriço de drogas ilícitas, assim como os processos de integração funcional que possibilitam as peculiaridades deste comércio nas cidades de Corumbá (Brasil) – Puerto Quijarro/ Puerto Suárez (Bolívia). A metodologia de pesquisa utilizada foi a etnografia, o que possibilitou entender esses processos e práticas a partir da visão dos atores sociais envolvidos neste tipo de comércio. As implicações da pesquisa etnográfica, em situações de perigo, também são foco de reflexão deste trabalho, em que analisamos as condutas que norteiam a venda de drogas, tanto no atacado quanto no varejo desta região. A partir disso, buscaremos compreender também as consequências dessa economia ilegal no tecido social de Corumbá, rompendo com as dicotomias entre o legal e o ilegal. O principal foco desta pesquisa são as “bocas familiares” estruturadas a partir das relações de vizinhança e parentesco. Este estudo aponta, por fim, para algumas mudanças ocorridas a partir de 2006,
com a entrada progressiva do Primeiro Comando da Capital (PCC) nesta região, a partir dos presídios. Esta presença do crime organizado vem transformando a dinâmica local de venda de drogas baseadas nas relações pessoais e de vizinhança, inserindo uma nova lógica de lealdades ao PCC, assim como apontando para sua possível transnacionalização.
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OLIVEIRA, Giovanni França. 2013. 126 f. Nas bocas da cidade de Corumbá-MS; o comércio de drogas na fronteira. Dissertação (Mestrado em Estudos Fronteiriços) – Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços, Universidade Federal de Mato Grosso Do Sul – Campus do Pantanal, Corumbá, MS
As fronteiras internacionais são um elemento fundamental na construção dos estados modernos. O surgimento e transformação de conurbações de fronteira estão muitas vezes ligados com a abertura de pontes e outras infra-estruturas do sistema de circulação internacional. Assim, esses espaços urbanizados são caracterizados como passos necessários de fluxos legais e ilegais de pessoas e bens. Neles se dá uma singular articulação entre mobilidades de diferentes escalas e uma contradição constante entre fixidez e fluidez; ao tempo que um conflito entre os interesses e imaginários locais, contra os nacionais e regional/continentais. Apresentamos uma discussão teórica e metodológica com o objetivo de desenvolver algumas ferramentas de análise para o estudo das ligações entre fronteiras internacionais, mobilidades e dinâmica urbana local. Para este fim, esboçamos alguns casos de conurbações fronteiriças envolvendo à Argentina e países vizinhos em vista de uma futura caracterização mais ampla. Nosso objetivo é ponderar o papel do sistema continental de mobilidade tanto em sua gênese e configuração como em sua hierarquia urbana e sua complexidade sociocultural.