A difusão global de doenças como a Aids e outras doenças emergentes vem preocupando cientistas e autoridades sanitárias internacionais . Dentre as principais causas deste fenômeno destacam-se: o aumento do volume, amplitude e velocidade dos fluxos de pessoas e mercadorias, e as significativas alterações ambientais (mudanças no clima, destruição dos ecossistemas e perda da biodiversidade, poluição, artificialidade crescente dos ambientes humanos, etc.). As inovações tecnológicas no campo dos transportes, as transformações políticas e econômicas mundiais a partir do fim da guerra fria e da queda do Muro de Berlim; a eclosão de inúmeras guerras localizadas, nos Bálcãs, Oriente Médio, Ásia e África, contribuíram para o incremento dos fluxos migratórios internacionais (refugiados, trabalhadores migrantes, etc.) colocando em contato grupos populacionais anteriormente distantes. O fenômeno do turismo internacional de massa também teve o mesmo efeito.

Num mundo cada vez mais interligado e interdependente a noção de fronteira como barreira ou separação cede espaço para a concepção de lugar de contato ou lugar de passagem, prevalecendo as idéias de movimento, relações, comunicação e troca, de fronteira fechada para fronteira aberta (Martins, 1992). Se por um lado a tecnologia teve importante papel no “encurtamento” das distâncias potencializando os processos internacionais de difusão de doenças, ela também ampliou a capacidade de controle a distância através das redes informacionais. Estas redes agilizam o processo de tomada de decisões, principalmente quando se trata de intervenções para a contenção de surtos e epidemias. Para isso são necessários recursos humanos qualificados para a montagem e coordenação de sistemas de informação eficientes e equipes capazes de transformar dados em informação e ações preventivas e curativas.

A epidemia de Aids no Brasil tem sido estudada principalmente nos grandes centros urbanos. As áreas de fronteira, onde existe um grande potencial de interação entre pessoas e grupos populacionais, foram pouco estudadas até o momento, apesar de que por suas características particulares possam vir a constituir-se em espaços críticos para a disseminação do HIV. O principal objetivo dessa pesquisa é o levantamento e análise dos dados disponíveis sobre a situação da Aids nas áreas de fronteira do Brasil. Através de indicadores demográficos e epidemiológicos pretende-se apontar tendências espaço-temporais da epidemia, bem como identificar grupos populacionais mais vulneráveis. Além disso, é examinada a estrutura dos serviços de atenção à saúde nessas áreas, buscando sugerir prioridades e identificar possíveis parceiros para o desenvolvimento de estratégias locais de controle da epidemia.

 

Barcellos, C., Peiter, P., Rojas, L. & Matida, A. 2001. A Geografia da AIDS nas Fronteiras do Brasil. In: Diagnóstico Estratégico da Situação da Aids e das DST nas Fronteiras do Brasil. Campinas: Convênio Ministério da Saúde/CN DST/Aids; Population Council e USAID.