Nas última duas décadas, a trajetória da Colômbia no âmbito da segurança e defesa tem sido relevante para pensar alguns dos principais desafios colocados para os demais países e para as configurações regionais de segurança na América do Sul. Após a escalada dos conflitos internos associada à falência da capacidade de resposta do Estado colombiano na década de 1990, a virada para a década de 2000 foi marcada pela implantação do Plan Colombia e por uma estreita cooperação militar dos Estados Unidos nas guerras anti-drogas e contra-insurgente. Nessa virada, a Colômbia deixou de ser vista como uma referência negativa para o continente, como país-problema ou Estado falido, e passou a ser apresentada como um modelo de combate às drogas e à criminalidade e principal aliada dos Estados Unidos dentro da América do Sul.
A “experiência colombiana” se refere ao modo específico como a Colômbia operou essa transformação em sua estratégia de segurança e aos efeitos sucitados no âmbito regional sul-americano. A concepção desenvolvida a partir de 2002 e exposta na Política de Consolidación de la Seguridad Democrática (2007-2013) foi a de fortalecer o Estado colombiano para recuperar o controle territorial das áreas sem governo e consolidar a presença estatal através de uma ação integral para além do enfrentamento militar. Nessa experiência, podemos destacar a seletividade das áreas de operação militar e a combinação entre segurança estatal e agentes privados nos territórios recuperados, além do papel da cooperação internacional com os Estados Unidos.
No âmbito regional, podemos diferenciar as interações negativas desse modelo – como no caso do impacto na relação com a Venezuela e e Equador, acusados de não cooperarem com o esforço colombiano nas zonas de fronteira – e as interações positivas, como a assimilação da “experiência colombiana” para contextos similares em áreas sem governo na América do Sul – particularmente no caso das ações do Estado paraguaio contra a atuação de grupos armados irregulares nas áreas de cultivo de maconha próximas à fronteira com o Brasil, e, em menor escala, da “recuperação de territórios” promovida pelas forças de segurança no Rio de Janeiro.
Monteiro, L. C. R. 2011. A experiência colombiana e seu impacto na segurança da América do Sul In: V Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa. Fortaleza: ABED.